terça-feira, 31 de julho de 2007

O Rei Roberto

Publicado originalmente em O Samba.

Conta minha mãe que, quando eu era bebê, me embalava cantando “Todo menino é um rei” (Zé Luiz e Nelson Rufino). Já nessa época, eu dormia tarde e teimava em varar a madrugada. Mais velho, com 12, 13 anos, escutava o programa de Washington Rodrigues e Hilton Abihian, na Rádio Globo, depois de meia-noite. Foi nele que ouvi pela primeira vez o nome de Roberto Ribeiro. Noticiavam seu falecimento.

Meu pai disse: “Grande cantor, sambava muito bem”. No dia seguinte, a televisão deu pouco destaque, mas confirmavam a fala do coroa.

Já adulto, baixei “Todo menino é um rei” e, aí sim, atentei para o talento de Roberto. Baixei outros discos, pesquisei sobre ele e fiquei apaixonado pela obra do cantor. Cada música era uma descoberta, uma nova paixonite. Não sei dizer por quantos dias e horas seguidas escutei “Amor de verdade” (Flavio Moreira e Liette de Souza), assim como também não sei dizer a quantas pessoas enviei essa música e disse: “Por favor, presta atenção nessa letra”.

Quando soube que era ninado por um sucesso de Roberto Ribeiro, percebi que minha relação com ele era mais estreita do que poderia imaginar. Até goleiro do meu Fluminense ele tentou ser. E tenho tanto carinho por essa relação que só agora resolvi escrever algo sobre ele. Madrugada dessas (de novo ela), ele pintou cantando “Vazio” (Nelson Rufino) e me encheu de coragem.

Pego o lápis e tento dar o meu melhor. O negão merece. Arrisco-me a dizer que é o maior cantor de samba e, para mim, um dos melhores que o Brasil já teve. É arrepiante ouvi-lo cantar “Jongo do irmão café” (Wilson Moreira e Nei Lopes) e “Ginga Angola” (Nei Lopes). Dá praticamente para sentir o cheiro da senzala, a força da história negra. Como disse o amigo Thiago Dias neste blog: “Esse Roberto Ribeiro sabe escolher repertório, hein?”. Sabe sim. Estão lá Nei Lopes, Nelson Rufino, Silas de Oliveira, Délcio Carvalho, Chico Buarque, Dona Ivone Lara.

Quando eu disse que, ao dar de cara com a obra de Roberto Ribeiro, cada música era uma descoberta, não era exagero. Já escutei “Vazio” muitas vezes, mas redescobri-a nessa madrugada. A música me disse muitas coisas. Entre elas, que Roberto Ribeiro não canta, ele diz. Pra mim, se tem um Roberto que é rei, o sobrenome dele é Ribeiro.

sábado, 21 de julho de 2007

Na mesa do almoço

Sogro: "Mas me diz filho, o que é que você pretende fazer no futuro?"

Namorado: "No futuro o que eu pretendo é passar o máximo de tempo ao lado da sua filha, senhor".

O rapaz é Lloyd Dobler, personagem de John Cusack em "Digam o que quiserem (Say anything...)"(1989), época que ainda se faziam bons filmes adolescentes.

Em tempo, essa eu vou mandar pro meu sogro.

segunda-feira, 16 de julho de 2007

Revisitando Gattaca

Tem dias que a gente se pega dando aquela arrumada no quarto e esbarra em alguns cds, que em determinada época você escutava incessantemente no último volume. Aí você tira a poeira da capa e soca o disco no som, e quando você lembra o bem que aquilo te faz, hoje, no presente, também acaba fazendo um bem danado.

Tive essa sensação domingo de madrugada, ao ligar a tv e dar de cara com "Gattaca", uma das melhores ficções científicas da história recente do cinema. Nelson Rodrigues nos aconselhou a ler os melhores livros várias vezes, penso que devemos fazer o mesmo com os filmes. A história protagonizada por Ethan Hawke e Uma Thurman é uma bela provocação, a começar pela frase dita no início: "Em um futuro não muito distante".


Nesse futuro próximo as pessoas são valorizadas pela sua estrutura genética. Seres humanos concebidos em laboratório são gerados sem qualquer chance de ter algum tipo de "deficiência" e os concebidos de forma natural, obviamente mais propensos a alguma falha nos gens, são chamados inválidos. O simples fato da pessoa usar óculos , por exemplo, é considerada falha grave. Nos primeiros minutos de filme o personagem de Ethan diz: "Agora faço parte de uma nova classe social que não são discriminados pela cor da pele. Agora somos discriminados a nível de testes científicos".

A história é sobre a luta desse personagem para provar que as pessoas "geneticamente inferiores" são tão capazes quanto os "superiores". O preconceito e a exclusão são praticadas abertamente pelas instituições, só há espaço para um tipo de pessoa. Ao contrário de outros filmes, em "Gattaca", não se percebe o futuro pelas máquinas tecnologicamente avançadas ou por guerras apocalípticas , mas sim pelo rumo que tomou a convivência das pessoas, em que ponto chegou a tolerância por determinados tipos de diferenças.

"Gattaca" é sutil, não diz nada escancaradamente. Faz com que você pense, não subestima o espectador. Aí é o seguinte, como se passa num futuro não muito distante, qualquer semelhança com a realidade...

Nunca é demais reler, escutar ou ver, coisas que nos fizeram muito bem um dia. Tem coisas que a gente deixa pra trás não sabemos bem porque, mas sabemos que elas fazem falta.

quarta-feira, 11 de julho de 2007

Cala a boca Neto


Ídolo do Corinthians nos anos 90, Neto, sempre foi um jogador envolvido em polêmicas, o que não nos privou de por algum tempo vê-lo praticar um belo futebol e ver belos gols saídos de sua canhota. Há mais ou menos dez anos ele apresenta uma carreira estável como comentarista esportivo, e vive transitando vezes na Record vezes na Bandeirantes, onde já está faz um tempo.

Apesar de alguns erros de português e alguns comentários motivados pela emoção e a implicância gratuita, Neto não é de todo ruim. Como jogou futebol e bem, faz alguns comentários técnicos pertinentes.

Mas vamos e venhamos, Neto fala muita, mas muita besteira, como o comentário que irei reproduzir agora, feito no jogo Brasil e Espanha, válido pelo mundial Sub-20:

"Essa seleção sub-20 tem muitos talentos, o Pato e Jô, por exemplo, mas sabe o que ela me lembra? Me lembra índio". Colocação preconceituosa e racista. Neto se referia a organização da seleção em campo que é uma verdadeira bagunça.

Eu lembro até de professores fazendo esse tipo de colocação na escola, no meio da fuzarca da turma, se referir aos alunos como "bando de índios". O ritual bonito e tradicional indígena, diante de olhares preconceituosos e ignorantes, como os de Neto é tido como sinônimo de bagunça e desordem.

Lamentável escutar isso num programa veiculado no Brasil inteiro e mais ainda lamentável é, por pessoas despreparadas para darem uma de comunicadores.

"

terça-feira, 3 de julho de 2007

Uma tarde com Fidélis

A caravana saiu com lotação máxima. No banco detrás do Fiat-Uno, havia quatro cabeças. Verdadeira lata de sardinha. Piloto e co-piloto na frente, mapa impresso. Foi assim que o time saiu jogando, rumo à quadra do “Quilombo”, na Fazenda Botafogo, a fim de curtir a primeira roda de samba da retomada da escola.

Enfermo, Mestre Paulinho, responsável pela bateria da escola, não compareceu. Fora isso, o toró que caiu à tarde no Rio de Janeiro minou de vez os planos da atividade quilombola. Como os poucos que compareceram não vieram no mundo a passeio, foi improvisada uma roda de samba na varanda de um bar.

Pimenta na garrafa surrada de Pirassununga, angu e cachaça pra proteger do frio e forrar o estômago. Um repique frouxo, um banjo e a palma da mão era todo o instrumentário, e quem sabia acompanhava no gogó. Nada demais, se o bandolinista não fosse Fidélis Marques, um dos compositores da retomada do Quilombo. Era o canhoto primo de Arlindo Cruz que ditava o ritmo da mesa, amparado com um caderninho cheio de clássicos do samba e algumas composições de sua autoria.

Alguém me cutuca e diz: “Escuta isso”. Era um arranjo lindo e pertencia a “Sorriso de um banjo”, de Fidélis com Bira da Vila e Melodia Costa, um sucesso da voz potente de Jovelina Pérola Negra. No dia da gravação da música ele não foi encontrado, sendo assim, o arranjo esmerado ficou de fora da introdução.

A parceria com Bira é prolífera, os dois têm vários sambas juntos. “Geralmente eu faço a letra e dou ao Bira. Às vezes até esqueço, aí do nada ele vem e aparece coma música”. Fidélis conta que tocou “Sorriso de um banjo” em vários festivais, principalmente no Espírito Santo e conta que a Cassiana, filha de Jovelina voltou de lá impressionada, pois a platéia capixaba cantava animada sua canção.

Fidélis ali, sentado à mesa, era o compositor de uma canção que eu considero um dos clássicos da história recente do samba. Despido de estrelismo e limpo de importância, que compôs uma canção que eu cantarolei muitas vezes aos berros em casa e escuto num volume maior ainda.

É porque as coisas boas do samba são assim, como as da vida, simples e facinhas, facinhas.


Publicado originalmente em O Samba

segunda-feira, 2 de julho de 2007

Pela rua



Olha o picareta se apropriando do nome da Rainha das Águas para praticar a pilantragem. Como se não bastasse, ainda brinca nos erros de português.

Eta lelê.