terça-feira, 3 de julho de 2007

Uma tarde com Fidélis

A caravana saiu com lotação máxima. No banco detrás do Fiat-Uno, havia quatro cabeças. Verdadeira lata de sardinha. Piloto e co-piloto na frente, mapa impresso. Foi assim que o time saiu jogando, rumo à quadra do “Quilombo”, na Fazenda Botafogo, a fim de curtir a primeira roda de samba da retomada da escola.

Enfermo, Mestre Paulinho, responsável pela bateria da escola, não compareceu. Fora isso, o toró que caiu à tarde no Rio de Janeiro minou de vez os planos da atividade quilombola. Como os poucos que compareceram não vieram no mundo a passeio, foi improvisada uma roda de samba na varanda de um bar.

Pimenta na garrafa surrada de Pirassununga, angu e cachaça pra proteger do frio e forrar o estômago. Um repique frouxo, um banjo e a palma da mão era todo o instrumentário, e quem sabia acompanhava no gogó. Nada demais, se o bandolinista não fosse Fidélis Marques, um dos compositores da retomada do Quilombo. Era o canhoto primo de Arlindo Cruz que ditava o ritmo da mesa, amparado com um caderninho cheio de clássicos do samba e algumas composições de sua autoria.

Alguém me cutuca e diz: “Escuta isso”. Era um arranjo lindo e pertencia a “Sorriso de um banjo”, de Fidélis com Bira da Vila e Melodia Costa, um sucesso da voz potente de Jovelina Pérola Negra. No dia da gravação da música ele não foi encontrado, sendo assim, o arranjo esmerado ficou de fora da introdução.

A parceria com Bira é prolífera, os dois têm vários sambas juntos. “Geralmente eu faço a letra e dou ao Bira. Às vezes até esqueço, aí do nada ele vem e aparece coma música”. Fidélis conta que tocou “Sorriso de um banjo” em vários festivais, principalmente no Espírito Santo e conta que a Cassiana, filha de Jovelina voltou de lá impressionada, pois a platéia capixaba cantava animada sua canção.

Fidélis ali, sentado à mesa, era o compositor de uma canção que eu considero um dos clássicos da história recente do samba. Despido de estrelismo e limpo de importância, que compôs uma canção que eu cantarolei muitas vezes aos berros em casa e escuto num volume maior ainda.

É porque as coisas boas do samba são assim, como as da vida, simples e facinhas, facinhas.


Publicado originalmente em O Samba

Um comentário:

Anônimo disse...

faltou essa no CD hein...rs*