quinta-feira, 2 de agosto de 2007

Enfim, o fim.

Caminhando pelo belo gramado do cemitério, olho as lápides. Uma me chama atenção, nascida em 1897 e morta em 1987, viveu bastante a mulher. "Será que era bonita ela?", é a primeira coisa que eu penso.

Diante da cova, todos em volta. A viúva me abre um sorriso que eu não pude lhe dar. Está conformada. "O povo crente é assim porque nós cremos na salvação", disse o meu coroa. Ele também é crente. E otimista também. Eu também creio na salvação, só não sei se estou nos planos dela.

Que inveja!

Cinco coveiros esperam a última resenha dos pastores. Os hinos começam a serem cantados, um deles, o preferido do amigo que já está no fundo da cova.

Triste a profissão do coveiro. É dela a última palavra. A última pá de cal. Depois da ação deles, aí sim, o final. Os cinco rapazes não parecem melancólicos por isso. Que bom. Trabalho é trabalho, alguém disse que ele dignifica os homens.

Poético o trabalho dos coveiros.

O caixão é tapado. Espero a terceira pá de areia. Desço com o coroa. Atravessando a rua, cada um com sua lata de guaraná, dissemos estalando o alumínio: "Ao nosso amigo".

Era o coroa mais sangue bom do prédio.
Pule de dez dos sangue bons. Deixa o legado que só os boas gente, deixam.

Na última vez que nos encontramos, perguntei como ele estava, me repondeu o de sempre.
"Estou bem, mas não como você. Um dia eu chego lá".

Que nada. Ele já teve dias iguais aos meus e outros tantos melhores. Até alguns de seus últimos anos de vida, possivelmente, podem ter sido melhores que os meus.

Gente boa era esse coroa.

2 comentários:

Anônimo disse...

Os últimos anos devem ser o melhor da vida.

Anônimo disse...

tem que chegar nas avançadas das idades com o passarinho vivo na gaiola da cueca