segunda-feira, 4 de junho de 2007

Ritmo de um sonho



You know it´s hard out here for a pimp

When you tryin'to get this money for the rent
For the Cadillacs and gas money rent
Will have a whole lot of bitches jumpin'ship

A estrofe não é do 50 cent e nem do Snoopy Dog, é o refrão de "It's Hard Out Here For A Pimp", do cafetão DJay que aspira ser um rapper em "Ritmo de um sonho"(Hustle & Flow), escrito e dirigido por Craig Brewer. Produzido com dinheiro do próprio bolso por John Sigleton, do fundamental "Os donos da rua", o projeto demorou a engrenar por falta de financiamento. Depois de papar o prêmio do público no Festival de Sundance em 2005, duas grandes distribuidoras compraram os direitos do filme e assim chegou o sucesso.

Trancado em casa por conta do domingo chuvoso, peguei o dvd na locadora. Terminada a sessão a certeza de um filme excelente. Apesar de ter um cafetão como personagem principal e o rap como trilha sonora, a história anda na contramão dos filmes que se passam nos guetos americanos e têm a violência e a droga como protagonistas principais. Com atuação de gala, Terence Howard interpreta o pimp do filme e teve uma merecida indicação para o Oscar. Ele provoca tal empatia com o público que não tem como você não abraçar a causa do personagem. Ele mesmo canta(e bem) as canções do filme. Já na cena inicial Terence diz a que veio. Um monólogo sensacional que já faz você ficar ligado que vem coisa boa.

O maior mérito do roteiro é demistificar a profissão do pimp americano, tão glamourizada ultimamente nas letras de rap. DJay não é cercado de belas mulheres e nem de carros possantes, é um homem que tinha um sonho e no meio do caminho esqueceu disso. Amparado por amigos e por suas funcionárias, ele volta a pensar no que ficou pra trás e vê-se lutando pelo sonho de se tornar um cantor de rap.

O ambiente do filme é Memphis, terra de Craig Brewster e de Elvis Presley. Malandramente o diretor não faz menção alguma ao Rei do Rock e se concentra no que se passa realmente nas ruas da cidade, onde rapazes produzem suas músicas em estúdios precários caseiros e vendem suas fitas em drive-ins. A letra de "It's Hard Out Here For A Pimp"(Oscar de melhor canção), por exemplo, foi composta por Al Kapone, um rapper minhoca da terra que vende suas fitas demo no peito e na raça pelas ruas de Memphis. Craig é um diretor provinciano (no bom sentido), a cidade está pra ele assim como Nova York está para Spike Lee e Woody Allen. Fez seus primeiros filmes em câmera digital, um deles sobre ladrões de carro da cidade. Em certa altura um personagem diz:

"O rap está voltando pra casa, pro sul. Foi aqui que tudo começou.Percussão pesada, refrões repetitivos, letras sexualmente sugestivas. É tudo blues meu irmão. Desde 'Back door Man' até 'Back the ass up' tem tudo a ver com dor e vagina.Todo homem tem o direito, a porcaria do
direito de contribuir com um verso".

Vale também um confere nos extras do dvd. Lá se encontra além do processo de criação e produção do filme, um panorama do que foi a cena musical de Memphis nos anos 60 e 70 que ajuda em muito na compreensão da história.

"Ritmo de um sonho" é um belo filme. Criativo, sensível e urbano.

Um comentário:

Anônimo disse...

quero ver...